Do liso para o afro. Crespos, longos,
curtos, ondulados, uns caracóis mais soltos, outros mais volumosos, preto,
loiro e até algumas cores mais ousadas, independentemente do estilo ou da cor o
cabelo afro está sendo cada vez mais aderido, por pessoas de diferentes idades
e um pouco por todo mundo. Mas afro não se resume somente no cabelo, é a
cultura africana, um estilo e trata-se de vestuários feitos com tecidos
africanos. A palavra do ano é o empoderamento das mulheres em vários aspetos e
um deles é assumir o cabelo natural, mais do que uma questão de embelezar, é
assumir a identidade das mulheres cabo-verdianas.
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Cariane Santos |
O
cabelo afro tem feito parte da cultura cabo-verdiana e não só, noutras partes
do mundo como Africa principalmente, onde surgiu, Brasil, EUA, Alemanha,
Portugal e outros, tem sido um grande destaque, porém ainda com um pouco de
racismo. São muitas as mulheres que hoje assumem o cabelo afro como símbolo da
identidade africana. Desde os anos 70 o afro esteve em voga, hoje voltou a ser
usado e está sendo mais valorizado, as mulheres se dedicam bastante por um
cabelo natural. Todos os químicos que esticavam o cabelo e o alisamento das
escovas e as “chapinhas” estão a dar lugar ao cabelo natural, a maioria já não
segue o padrão de beleza imposto pela sociedade, o cabelo liso, até porque já
la vão tempos em que o cabelo liso e longo era sinônimo de beleza, agora as
mulheres entendem que não é preciso domar os seus cabelos, já aceitam o crespo,
o natural, demostrando suas origens, identidades, características e preservando
a sua cultura ao invés de assimilar a cultura dos outros povos.
O
número de mulheres que voltaram ao cabelo natural tem crescido bastante. A
maior parte delas garantem que não tomaram esta decisão só pelo facto de estar
na moda, mas também por aceitar as suas raízes africanas, por gostarem e se
identificarem com esse estilo de cabelo, estes são os principais motivos dessa
grande mudança. Mesmo passando por dificuldades, estão seguindo em frente,
passar por uma transição capilar não é fácil, são messes fazendo cronograma
capilar, texturização e vários tratamentos, técnicas e produtos para cuidar do
cabelo e deixa-lo saudável.
Fazer
o “big chop” ou seja, o grande corte é uma decisão difícil, principalmente porque
a transição pode ser muito lenta, dependendo do tipo de cabelo, mas cortar todo
o cabelo quimicamente tratado é o primeiro passo para ter os cachos perfeitos,
e mais difícil também segundo as “cacheadas” e “crespas.”
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Keila Sanches |
Keila Sanches, nasceu em São Vicente e desde
menina teve os seus cabelos cacheados, mas o cabelo tinha muito volume e na
época era “feio”, ela foi uma das dependentes do desfrise, a três anos deixou
de usar desfrisantes, para ter um cabelo na sua forma original. Afirma que o
processo da transição não foi fácil, ela teve que cortar o todo o cabelo, para
eliminar os químicos e deixar crescer natural. “Foi muito complicado e as
pessoas questionavam o porquê do corte, mas eu não me sentia bem, não tinha
saúde naquele cabelo, era danificado pelo químico. Mas com o tempo fui cuidando
com ajuda de grupos no “face” e hoje eu tenho um cabelo lindo e me orgulho
dele, diz Keila, sorrindo.”
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Leo Almeida |
Os
homens também seguiram esta tendência, Leo Almeida resolveu deixar o cabelo
crescer há um tempo, e conta que sofreu um pouco por esta decisão, os seus
amigos gozavam muito com ele, lhe chamavam de nomes, riam-se dele, e no início
ele ficava constrangido com a situação. “Quando descobriram que eu fazia hidratação,
foi ainda pior, diziam que essas coisas são para mulheres, eu me sentia mesmo
mal, mas hoje já não me importo, tanto que eles já nem gozam comigo, e as
pessoas admiram o meu cabelo e eu me sinto ótimo, pois nada melhor do que
cuidar do que gostamos”, diz Leo, sorrindo.
Os produtos
Algumas
mulheres dizem que cuidar dos cabelos crespos e cacheados é não é muito barato,
é necessário produtos e técnicas que exige tempo e dinheiro, os produtos mais
caros são as mascaras de hidratação e os cremes de pentear.
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Christina Antunes |
Christina
Antunes conta que no início teve muitas dificuldades com os produtos, “gastei
muito dinheiro para cuidar dos cachos, fazia hidratação caseira, precisava de
muitas coisas. Meu irmão zangava-se comigo porque eu lhe pedia dinheiro quase
todos o dias para comprar novos produtos, afirma Christina”. A mesma conta
ainda que além de sofrer um pouco por causa dos produtos, sofria também com a
pressão dos colegas a encher a cabeça, dizendo que não devia cortar o cabelo,
que ficou feia, e ela se sentia mal, chegou mesmo a ficar com baixa autoestima,
“mas isso nunca me fez recuar” assegura. “Agora, elogiam o meu cabelo e até
pedem dicas de como fazer, dizem que valeu a pena e que também querem começar a
transição” diz Christina.
Discriminação
Desde
a antiguidade existe uma certa discriminação pelos negros, a cor da pele e o
cabelo crespo. Os negros sempre foram maltratados e ignorados, vistos como
coisas horríveis, os requisitos para uma boa aparência sempre foi a brancura e
o cabelo liso. Ainda hoje há pessoas que pensam assim, mas os negros já
revoltaram e a maioria assumem as suas raízes e nem sentem vergonha, pelo
contrário eles tem autoestima.
No
Centro Educativo Miraflores proíbe-se a entrada de alunos com cabelos afros, em
2012 uma aluna foi impedida de entrar na escola por usar o afro, este ano
voltaram a bater na mesma tecla, não deixando os rapazes de cabelos volumosos assistir
as aulas.